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domingo, 12 de abril de 2020

VANESSA VASCOUTO LÊ UM TRECHO DO "DIANTE DOS MEUS OLHOS"

Não é todo dia que recebo um presente desses: em plena quarentena, a escritora Vanessa Vascouto escolheu um trechinho do meu livro para compartilhar nas redes sociais. Aproveito para reproduzir o vídeo abaixo, caso você não tenha visto. E, se ainda não tem o livro, pode encomendar com frete grátis clicando aqui.

Daí vem a talentosíssima Vanessa Vascouto e me presenteia com a leitura de um trechinho do "Diante dos meus olhos". Difícil conter a alegria aqui neste canto da quarenta.
Publicado por Eduardo A. A. Almeida em Sábado, 11 de abril de 2020

sexta-feira, 20 de março de 2020

#INDIEBOOKDAY 2020

Uma notícia boa, enfim! Durante todo o final de semana (21 e 22 de março), os livros da editora Reformatório estarão com descontos de até 70%! Então não compre carro hoje: gaste tudo em livros amanhã! Use este link para encomendar meu romance com desconto aqui >> Diante dos meus olhos

Gostou? Use a hashtag para compartilhar: #indiebookday

quinta-feira, 12 de março de 2020

ENTRE VISTAS: EDUARDO A. A. ALMEIDA E DIANTE DOS MEUS OLHOS

A entrevista abaixo foi concedida à escritora Renata Py e publicada originalmente em sua página no Medium. Você pode adquirir seu exemplar do romance Diante dos meus olhos na loja oficial da editora Reformatório, clicando aqui.



Eduardo, o seu romance apresenta uma trama psicológica entre pai e filho, com uma série de acontecimentos inusitados em uma viagem entre eles. O fato de eles terem passado aqueles momentos na vila militar me pareceu decisivo na relação, em muitos aspectos. Uma situação-limite que envolve lembranças, intimidade e até sobrevivência. Comente um pouco sobre isso.

A vila atua como uma catalizadora de emoções, trazendo à tona memórias, expectativas, traumas, desentendimentos, frustrações, enfim, todas essas experiências compartilhadas e de alguma maneira mal resolvidas entre o pai e o filho. Tudo que aguardava há tempos num estado de latência encontra na antiga vila o motivo para acontecer. O local se apresenta também como uma espécie de encruzilhada entre o passado e o futuro; é, portanto, decisivo em muitos sentidos para os dois personagens. Um mapa feito para que tudo se perca.

Como se deu a ideia de usar uma antiga vila militar?

A vila surgiu na medida em que eu criava o passado dos personagens e precisei de um local essencialmente estabelecido conforme a ordem. Era importante pelas contradições que produziria nas três gerações daquela família que se relacionariam com ela. O curioso é que eu, pretensamente, pensei ter inventado tudo aquilo. Foi durante uma conversa casual com um completo desconhecido que descobri que, de fato, aquele tipo de vila militar não apenas existiu como ainda resiste no Brasil, com as devidas adaptações trazidas pelo tempo. E que os conflitos entre os moradores não são tão diferentes do que imaginei para os personagens do livro.

Após a viagem, a relação deles ficou aparentemente definida, como se a partir daqueles acontecimentos eles não precisassem mais cumprir o protocolo da relação pai e filho, a ponto de o narrador só voltar ao encontro do pai em seu enterro. Você acha que, com a idade e obrigações da vida adulta, essa distância é mais comum do que imaginamos?

A tal viagem marcou uma passagem. Daí a importância de, no final, eles cruzarem o portal da vila, que funciona como um símbolo. A vida dos personagens mudou a partir daí, os conflitos ganharam outras formas e uma nova situação se criou. Eles continuaram a manter alguma relação, eu imagino, mas ela já foge da história que o livro pretende contar. Não acredito que o mesmo aconteça o tempo todo por aí, mas a vida adulta exige também uma passagem e um abandono dos pais para que o novo adulto encontre o seu lugar. Existe um distanciamento, uma transformação, uma necessidade de redesenhar as relações.

O livro nos prende, do começo ao fim, numa atmosfera psicológica muito interessante, incluindo acontecimentos que muitas vezes nos fazem perguntar se são meros devaneios ou realidades pra lá de inusitadas. Você acha que, quando se trata de memória, ela muitas vezes pode nos criar peças?

Desde o começo, me interessava questionar isso que a memória estabelece como uma espécie de fundação para o sujeito, quer dizer, como uma base firme sobre a qual podemos construir os nossos mundinhos particulares e coletivos. Não à toa a incerteza está presente o tempo todo na narrativa, não se pode acreditar sequer no que os olhos apresentam como real. Para mim, o passado é tão vivo quanto o presente e se modifica a todo instante. É fundamental preservar essa sua qualidade, de maneira que possamos sempre nos reinventar. Um passado cristalizado já não serve para nada, a não ser para sustentar dogmas, preconceitos, conservadorismos ingênuos e perigosos. Entrar no jogo impreciso da memória e deixar-se ludibriar é uma força, não uma fraqueza, como muitas vezes somos levados a crer.

Interessante o narrador, o filho, ter uma personalidade tão racional e ambientada no sistema externo. Geralmente, talvez por questões de geração, é o contrário que acontece. Por que você optou pelo filho ser o mais “conservador” da história?

Acho importante que a literatura ofereça outras perspectivas sobre as coisas e as pessoas. Um pai conservador com um filho revolucionário é um paradigma da humanidade. São também estereótipos por demais confortáveis para o escritor e para o leitor. Já basta disso em nosso dia a dia, nas rotulagens que predominam em nosso embate com o outro. A literatura tem aí uma potência crítica de mostrar que o conservador tem algo de revolucionário e o revolucionário verdadeiro, por sua vez, está a todo instante lutando com os seus próprios conservadorismos, entre tantos outros matizes que formam a complexidade do ser humano e que vão muito além dessa questão binária. Ainda que o personagem do filho, no romance, pareça mais conservador, ele não está satisfeito com isso, fica reafirmando-se como se precisasse se certificar de que as coisas permanecem no lugar, quando na verdade está vivendo uma revolução pessoal. Com o pai acontece o mesmo, mas num sentido inverso. E ambos precisam lidar com esses conflitos, pois são diferentes e ao mesmo tempo parecidos. Isso é literatura e é também a vida; elas extravasam a simplória polarização que hoje parece tão à flor da pele.

Sem querer dar spoiler, você pode comentar sobre os negativos que o pai achou na vila quando aparentemente encontrou um amigo fotógrafo?

Os negativos são mais um exemplo da imagem que não dá conta de apresentar a realidade. São a prova fatual de que os fatos são tendenciosos, manipuláveis, parciais. Essa cena é quase um resumo do romance, pois materializa as questões que antes talvez parecessem por demais metafísicas.

Os acrobatas encontrados na vila me pareceram personagens de Beckett, de tão inusitados, mas que, ao mesmo tempo, poderiam ser perfeitamente reais. Fale sobre eles. 

Sim, personagens de Beckett, sem dúvida. São esse tipo fantástico que, de tão real, faz com que a realidade se torne fantasiosa. Eles são contorcionistas, na verdade, justamente porque trazem essas torções e distorções na percepção dos personagens; têm uma função direta e outra parabólica.

O filho demonstra em muitos momentos uma frieza prática em relação a determinadas situações. Ele poderia ser quase um psicopata?

O filho tem um pragmatismo alimentado por uma subjetividade produtivista, muito parecido com o que vemos a todo instante no outro lado do balcão, em pé conosco no metrô, na propaganda de cursinho de vestibular. Hoje mesmo vi uma dessas notícias rápidas e desnecessárias que nos são lançadas até enquanto subimos cinco andares de elevador, como se todo o tempo precisássemos ser impactados, como se diz no meio marqueteiro. Ela falava sobre o prejuízo financeiro na Europa, que já não recebe turistas chineses por conta do coronavírus. Quer dizer, não bastasse a especulação, a espetacularização e a exploração engendradas com essa doença, lemos sobre um índice econômico que, no final, está associado a pânico, mortes, comoção social, sensibilidades das mais diversas, e que no entanto sequer nos afetam, exceto por nos colocar no mesmo buraco midiático. Acho um tanto perigoso esse tipo de diagnóstico das psiques. Se a frieza faz do filho um quase psicopata, vivemos todos num manicômio chamado civilização.

Uma das cenas que mais me despertaram curiosidade foi o encontro do narrador com a velha senhora. Você poderia falar mais sobre o impacto daquele encontro na vida dele? 

A velha senhora não é bem uma personagem, é uma entidade, como gosto de dizer. Está ali para evocar o tempo e as diferentes elaborações que ele exige; é quem alarga as noções do personagem, permitindo a ele novas possibilidades existenciais.

Eduardo, parabéns pelo livro. Extremamente intrigante e envolvente. Queremos saber sobre os novos projetos. Muito obrigada pela entrevista. Me despeço com uma última pergunta. Tem uma frase no livro que diz: “Aquelas lembranças pertenciam a ele. Eu teria me livrado delas na primeira oportunidade, só que não há mais como devolvê-las; nem como ignorá-las”. Você acha que a gente carrega o peso do passado dos nossos antepassados no nosso DNA ou realmente isso só seria possível se fosse vivenciado de alguma maneira, como foi o caso dos personagens de “Diante dos meus olhos”?

Somos ensinados a viver de determinado modo, a reproduzir maneiras e a programar inclusive as descobertas mais revolucionárias. Carregamos o passado como uma bagagem cultural que media nossas relações com todas as coisas. As plaquinhas de identificação, na vila, evocam essa mediação — de maneira alusiva, claro, mas elas põem em questão essa necessidade de legendar, proteger, explicar tudo com as palavras já conhecidas que nos foram ensinadas. Não acredito que seja possível fazer tábula rasa, nem devemos, mas é nossa tarefa colocar em questão essas formas que nos são dadas prontas, e nisso me parece que a literatura e as artes em geral são grandes aliadas. Somos, afinal, muito bem domesticados. Meu próximo livro, que deve sair no próximo semestre, investiga essa domesticação de maneira inusitada, num viés da animalidade e com um formato completamente diferente do romance: são textos curtos, humorados, que vêm provocar atrito entre a ideia de beleza e o abismo da nossa realidade diante da natureza.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

ENTREVISTA: COMO EU ESCREVO (PARTE 2)

Há pouco mais de um ano, José Nunes me convidou para falar sobre meu processo criativo, entre outros assuntos relacionados ao ofício.

Seu projeto, intitulado Como eu escrevo, tem agora um desdobramento: novas perguntas com o objetivo de compartilhar ideias e contribuir com os desafios de quem se põe a lidar com as palavras.

Deixo abaixo a segunda rodada de perguntas que respondi, publicadas originalmente junto com as anteriores na página do projeto: comoeuescrevo.com/eduardo-a-a-almeida

Ficou com curiosidade de ler os livros que menciono? Clique nos títulos para saber mais: Testemunho ocular (contos) e Diante dos meus olhos (romance).

Foto: Edi Rocha

11. Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?

Normalmente o projeto se forma a partir do que estou escrevendo, não é premeditado. Experimento formatos sem grandes pretensões, anoto ideias, escrevo alguns parágrafos. Um dia olho para aquele amontoado de coisas e percebo uma linha condutora, um interesse em comum, talvez. Foi o caso do Testemunho ocular, livro publicado em 2018 pela Lamparina Luminosa: eu tinha alguns contos e percebi que havia em todos eles uma inquietação de natureza similar. Comecei a retomar textos antigos, engavetados, e aquela inquietação também aparecia neles de uma maneira ou de outra sem que eu tivesse me dado conta disso até então. O conceito do livro surgiu daí. Para dar a forma que pretendia, acabei por editar alguns textos, escrever outros e criar um projeto editorial. Não gosto de pensar em meus livros como meras coletâneas; é preciso haver uma amarração, um conceito, um ponto central que possibilite outras camadas interpretativas.

O caso do Diante dos meus olhos, publicado no fim de 2019 pela Reformatório, não foi muito diferente. Comecei por tomar notas de um sonho, ainda de madrugada, porque eu não podia voltar a dormir e correr o risco de esquecê-lo. Na manhã seguinte, ainda sem saber bem a razão, percebi que a ideia tinha um potencial a ser explorado. Escrevi um pouco mais, o texto foi criando corpo, passou de uma cena curta a um conto longo. E não parava, era incontrolável. Segui nesse ritmo por bastante tempo, até ter em mãos um pequeno romance. Ele foi publicado dez anos depois do primeiro esboço.

Em meio a esses processos mais "espontâneos", por assim dizer, o difícil não escrever a primeira nem a última frase, mas identificá-las para que, entre elas, exista um projeto literário.

12. Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Eu não diria que prefiro assim, mas vários projetos acontecem ao mesmo tempo, é uma maluquice. Tenho trabalhado em tempo integral num escritório, escrevendo textos para outras pessoas e empresas. Também atuo como revisor e preparador de textos. Minhas criações pessoais muitas vezes são resolvidas na hora do almoço, no metrô, nos minutos em que minha filha dorme e eu consigo permanecer acordado, nas brechas dos finais de semana, entre os compromissos familiares e os afazeres de casa. Tenho escrito pouca literatura de ficção. Inclusive porque uma série de outras tarefas me convocam a todo instante, requisitando prioridade: as atividades do coletivo Discórdia (encontros, feiras, rodas de leitura e debate, cursos etc.) e do GEPPS - Grupo de Experimentações Poéticas e Políticas do Sensível, minha coluna no jornal Correio Popular, aulas, oficinas, pareceres, palestras, compromissos da academia (ainda tenho para resolver várias reminiscências do doutorado, que defendi em 2018). A literatura de ficção vai forçando espaço em meio a esse entulho todo, é uma sobrevivente. Fico muito agradecido por ela não desistir de mim. Mas, para ser mais concreto, organizo minha semana anotando as tarefas e compromissos numa agendinha de bolso, de papel mesmo. A meta é chegar até a página seguinte, de preferência ileso.

13. O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?

Não é que eu tenha de uma hora para outra decidido me dedicar à escrita, quer dizer, isso jamais ocorreu de forma tão dramática. Mas eu me lembro da primeira vez em que me assumi escritor, e nem faz tanto tempo assim. Foi há uns cinco ou seis anos, durante um curso sobre práticas artísticas comunitárias no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo. Eu deveria me apresentar para a turma e disse: meu nome é Eduardo, sou escritor. Uma amiga estava junto e, quando a aula terminou, veio falar comigo. Escritor é? Que vitória! Eu ainda gaguejava um tanto. Escrevia profissionalmente há mais ou menos quinze anos, mas até então me intitulava publicitário, redator, pesquisador. Nessa ocasião, eu tinha deixado a publicidade de lado, precisava assumir um "eu" que de fato me desse orgulho. Ainda assim demorei para dizer "escritor" em bom tom. Houve um dia, eu estava num cartório fazendo sabe-se lá o que, e o atendente preenchia um formulário. Ele perguntou: profissão? E eu disse. Ele tirou os olhos do papel e quis saber: é sério? Balancei a cabeça, afirmando que sim. Esse sujeito virou para os colegas e falou bem alto: gente, tem um escritor aqui! Foi bizarro, ninguém deu a mínima, mas o atendente estava animado. Imagino que tivesse os escritores em boa conta. Talvez seja esse o tipo de coisa que me motiva: produzir algum estranhamento no banal. Como dizia Michel Foucault, os textos são formas de inscrição no mundo. São meios de existência. Escrevo por muitos motivos, alguns ainda indiscerníveis, mas com certeza uma motivação é produzir essa inscrição que inquieta, que abre uma fenda na normalidade e chama atenção para algo que sempre esteve ali, mas nunca foi olhado por aquele ângulo. Escritores me motivam, artistas visuais, o teatro, filósofos, entre vários outros agentes do conhecimento que me provocam a pensar diferente, profanar verdades, manter a curiosidade viva.

14. Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?

Não me sinto muito à vontade com a ideia de ter um estilo próprio. Tenho, sim, interesses que vão se destacando pela recorrência. O maior deles talvez seja a questão da visualidade, já que o mundo que existe para cada um de nós quase sempre se resume naquilo que vemos, que se põe diante dos nossos olhos. E ele é tão ficcional quanto qualquer outro: são convenções, contextos culturais, perspectivas sociopolíticas etc. que produzem entendimentos sobre o mundo, no limite, inventados. A realidade é simplesmente imaginada. Daí eu acreditar que algumas imagens inusitadas, operando num sentido de deseducação do olhar, têm força estética e política capaz de produzir deslocamentos e sugerir outros pontos de vista. São capazes de dar a ver o que sempre esteve ali e até então não podíamos encarar. Isso não é um estilo propriamente dito. Na realidade, isso só acontece por meio de muitos atravessamentos, diferenciações, vertigens. Alguns escritores me ajudaram a trilhar esse caminho, sem dúvida. Mais do eles, foram livros específicos que me marcaram. O som e a fúria, de William Faulkner. O estrangeiro, de Albert Camus. A espuma dos dias, de Boris Vian. Bestiário, As armas secretas e Histórias de cronópios e de famas, do Cortázar. As cidades invisíveis, do Calvino. Na colônia penal, de Franz Kafka. Os contos de Murilo Rubião. Para fugir dos clássicos, cito ainda Pássaros na boca, de Samanta Schweblin. Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas. Li há pouco o Sobre os ossos dos mortos, de Olga Tokarczuk, recém-Nobel de Literatura, e de fato é incrível, eu gostaria de escrever um pouco como ela, com toda aquela empatia, profundidade psicológica e riqueza de detalhes. E não foram apenas esses autores e livros, claro. Além de outros ficcionistas há todos aqueles da filosofia, das artes, da estética. Eu poderia continuar por muitas linhas.

15. Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?

As cidades invisíveis, de Italo Calvino, é um dos livros mais lindos que já li. Existe nele tanta poesia que transborda em aspectos sociais, políticos, afetivos. É daquelas leituras imprescindíveis. Sempre que o retomo é com um prazer singular, como se lesse um texto sagrado, capaz de falar por meio de simbologias com qualquer pessoa em qualquer lugar e em qualquer época.

O som e a fúria, de William Faulkner, foi um livro que me exigiu um grande esforço, e assim conquistou um lugar muito especial em minha bibliografia. Ele tem inúmeras camadas, preciosidades, lições de literatura. Mas o destaque fica com a capacidade de o autor "outrar-se", como costumo dizer na tentativa de explicar essa maneira como ele escreve numa espécie de devir outro (retardado, pobre, mulher, negro etc.). É sem dúvida uma obra de mestre.

Fiquei tentado a recomendar outro daqueles clássicos que citei na resposta anterior, mas acho importante lermos contemporâneos nossos que apresentam problemáticas urgentes. Nesse quesito, todos precisamos ler os poemas de Um útero é do tamanho de um punho, da Angélica Freitas, que usa um humor perspicaz para criar versos arrebatadores sobre feminilidade, condição da mulher, intolerância, entre vários outras questões. Seu livro é uma lindeza, impossível parar de ler e de, com ele, repensar toda essa realidade que construímos.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

ENTREVISTA

O escritor Fernando Sousa Andrade me convidou para uma linda entrevista sobre meu romance Diante dos meus olhos (Editora Reformatório, 2019). Ela acaba de ser publicada na revista portuguesa InComunidade. Você também pode ler aqui:


Diante dos meus olhos tem tantas camadas, como pinceladas de tinta sobre um plano branco, e elas parecem que se mexem, sugerindo nuances novas e paletas policromáticas. Você levou três anos para fazer uma primeira versão, é isso? Como era seu trabalho de escrita ou reescrita durante esse tempo? É um romance em que o leitor imerge na história completamente. Como foi lapidá-lo?

Preciso dizer que você fez uma leitura muito especial do meu livro, que transparece na qualidade das perguntas. Fico lisonjeado e agradecido. Diante dos meus olhos foi sendo criado mais ou menos como você descreveu sua sensação de lê-lo: com pinceladas. Começou com um conto de quatro páginas, escrito na madrugada, logo que despertei de um sonho. Ali estavam esboçados o que viria a ser a vila militar onde a trama se passa e um ou dois personagens. Essa história continuou viva, pedindo para ser contada, e aos poucos desenvolvi o enredo. O conto curto passou a ser um conto longo, que depois ganhou corpo de romance. Cresceu demais, sofreu cortes; ao todo foram onze versões do livro realizadas durante uma década. Apesar disso, o enredo não teve mudanças drásticas, foi apenas se adensando no que diz respeito à psicologia dos personagens e aos pormenores da viagem que realizam. Com o processo pude conhecer melhor aquelas pessoas, o que me interessava na história, quais conflitos se apresentavam, qual deveria ser a linguagem e a forma mais adequadas para a narração. Eu queria obter essas nuances que não se deixam enrijecer nem capturar; que fossem complexas, ambíguas, paradoxais como o ser humano é e precisa ser compreendido — para além dos rótulos, das caixinhas, dos maniqueísmos etc. Parece que deu certo, pois outros leitores também me devolveram impressões semelhantes às suas, dizendo que ora sentiam apreço pelo pai e pelo filho, ora tinham raiva. Ainda assim eu não sabia bem o que tinha em mãos, muito menos o que fazer com o texto. Só tive coragem de buscar vias de publicá-lo quando ganhou menções honrosas no Programa Nascente USP 2015 e no Prêmio Sesc de Literatura em 2016, vários anos após o primeiro rascunho. Em 2019, o projeto foi selecionado num edital de publicação de livros promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Só então pôde chegar aos leitores.

2) Seu romance parece conter muitas pulsões que se veem na prática psicanalítica. O próprio enredo lida com projeções, relações entre o real e a fantasia, medos, luto. O narrador é carregado de afeto pelo pai, mas há sentidos ambivalentes no seu “narrar o pai”. A relação dos personagens parece colocar o romance numa espécie de suspensão, pois narrar é lembrar, mesmo que você escreva a partir do branco total (do esquecimento). E seu romance é tão alusivo à memória! Fale um pouco disso.

A memória é o tema principal do livro. E ela vem carregada de contradições entre as histórias de vida dos personagens, em especial a memória do filho, que narra o pai segundo o seu ponto de vista, a sua experiência, as suas angústias em relação a ele. O pai não tem direito de resposta; os papeis se invertem e ele acaba por se tornar uma espécie de criatura do filho. No fim das contas, não é assim que fazemos a história da humanidade, com os filhos narrando os pais, ou melhor, com as pessoas de hoje falando daquelas que já se foram? Mas há um paradoxo aí: fomos criados, educados, influenciados por nossos antepassados, que assim, por meio de nós, também conduzem a narrativa. No fundo, as questões que se colocavam para mim ao longo da escrita diziam respeito a como criamos essa realidade, que parece tão concreta, embora não seja mais do que uma invenção dentro de um contexto cultural. Os personagens tensionam esse fio, uma vez que a história se faz de memórias, e as memórias deles são elaborações de acontecimentos recentes ou muito antigos coexistindo meio misturados, indiscerníveis, que lutam para ter razão. A psicanálise atravessou o processo de criação do livro mais de uma vez. Tive meu primeiro contato com ela enquanto fazia as pesquisas para o mestrado em Estética e História da Arte, que coincidiram com a escrita de uma das versões iniciais do Diante dos meus olhos. Eu me debruçava sobre a Estruturação do self, trabalho derradeiro da artista brasileira Lygia Clark, ao qual ela dedicou seus últimos dez anos de vida e que se propunha como uma espécie de intervenção poético-terapêutica, por assim dizer. É um trabalho complexo, criado numa ambiguidade entre a arte e a clínica. Para me aproximar dele precisei conhecer um pouco da teoria psicanalítica, que é encantadora. Não parei mais. Li um tanto de Freud, Jung, Winnicott. Algo de Melanie Klein também, na medida em que a pesquisa requisitava. Em 2014 dei início ao doutorado, e por mais que relutasse tive que encarar alguns temas de Lacan, que me ajudaram a pensar essa relação entre real e ficção. Embora o livro não tenha um viés psicanalítico proposital, imaginei que essas aproximações logo surgiriam.

3) (Des)importar-se com a figura do pai, sua ação perene na vida, seu apego às imagens de uma infância na vila militar me fazem pensar como somos ainda uma projeção de quando fomos meninos, no caso do pai e filho. E como se no filho houvesse essas libações do corpo guardado e projetado à adultice. Isso é muito difícil de ser trabalhado no personagem-narrador?

O filho quer se diferenciar do pai para encontrar a si mesmo. Essa é uma questão-chave da existência humana, que tentamos explicar das maneiras mais diversas, entre elas a psicanalítica. Mas em um momento importante do romance o filho se dá conta de que, por mais que drene o sangue do pai de suas veias, seu corpo produzirá mais daquele mesmo sangue. Quer dizer, é uma desconexão impossível. Não importa o seu esforço em negá-lo e se afastar, o pai permanecerá seu ponto de referência; eles ainda estarão em relação. Eu queria que esse paradoxo e essa ambiguidade ajudassem a vermos as relações humanas de maneira mais complexa, mutante, impossível de determinar. Ao mesmo tempo acompanho meus amigos de infância envelhecendo e ficando cada vez mais parecidos com seus pais, os quais conheci com a idade que temos hoje. Essas histórias similares às do livro se contam a todo instante ao meu redor. Imagino que o leitor tenha aí um ponto em comum com o que se passa no Diante dos meus olhos.

4) A cena da velha na janela com a panela de pressão me chamou muito a atenção. O filho fica sozinho e há toda uma projeção cinematográfica sem o contato do pai, que se ausenta. Fale um pouco dessa cena.

Essa foi uma das primeiras cenas que imaginei, embora esteja mais perto do final do livro. Para mim, ela é uma espécie de contraponto à aparição anterior da velha — na janela da escola –, como se o público na plateia do teatro atravessasse o palco e chegasse às coxias. Na história da arte, até a irrupção do Modernismo, dizia-se que as pinturas são janelas para o mundo, ou seja, através delas é possível conhecer paisagens, objetos, gestos etc. No livro, a meu ver, essa cena que você mencionou sintetiza todo o embate entre real e ilusão vivenciado pelo personagem. É quando o problema se apresenta de fato, pois até então vinha apenas se sugerindo. E é o problema que ele carregará adiante. A panela de pressão marca essa ideia de tempo, e seus vapores tornam o ambiente nebuloso; mas apesar dessas evidências ela ainda é um mistério também para mim. Gostaria de saber o que está cozinhando, o que vai amolecendo em seu interior, desfazendo-se, talvez.

5) Eu tive certa visualização do seu romance com um filme chamado o Show de Truman. Passou pela sua cabeça esse filme enquanto estava escrevendo?

Esse filme foi bem marcante quando era mais jovem. Ajudou-me a pôr em crise meus afazeres de redator publicitário, que mal tinham se iniciado. Não me lembro de ter pensado nele, especificamente, enquanto escrevia o Diante dos meus olhos, mas sem dúvida a aproximação é plausível. Show de Truman também fala de desconstruir uma ilusão ao dar-se conta de que a realidade é criada como os cenários de um estúdio de cinema, embora naquele caso se trate de um espetáculo. Lembro-me de que, no filme, o personagem habita um reality show levado ao limite: o mundo acompanha cada etapa de sua vida, vivida desde o nascimento numa cidade cenográfica onde todos são atores. No final, quando percebe essa sua condição, ele abandona o espetáculo e se lança “no mundo real”. O que fico me perguntando, e isso sim tem a ver com meu livro, é: que mundo é este? Tem mesmo algo de real? Como se pode confiar?

6) Se fosse dar esse seu romance a alguém próximo e pedir um texto com comentários, quem você escolheria?

Tive o privilégio de receber algumas cartas de amigos que leram o livro e quiseram me escrever, algumas muito bonitas, escritas à mão, repletas de afeto. Uma delas me foi dada pela artista e terapeuta ocupacional Gisele D. Asanuma, que levou o livro para uma viagem e, enquanto lia, escreveu sobre as relações que estabelecia com os arredores, com as situações que encontrava pelo caminho, com reminiscências do passado, como se fosse se perdendo por aí com a ajuda desse mapa que escrevi justamente com esse propósito. Não sei se pediria a alguém para escrever sobre suas impressões de leitura porque um livro pode acessar lugares muito sensíveis, e o pedido talvez se tornasse invasivo. Mas sem dúvida um dos maiores prazeres em escrever é poder ouvir, depois, como cada leitor se deixou afetar pelo que leu. Essa troca é uma experiência incrível, que mexe bastante comigo, porque marca um momento em que o livro deixa de ser meu e ganha vida.

7) Diante dos meus olhos tem uma relação muito imagética com o cinema. A quem você entregaria seu livro para uma filmagem?

Eu tenho acompanhado pouco o cinema, o que é uma pena. Imagino que muitos diretores compartilhem comigo das mesmas questões sobre realidade e ilusão, uma vez que boa parte delas provém da força das imagens. Já tive oportunidade de ouvir Wim Wenders falar sobre o tema, acredito que o livro poderia interessá-lo, mas com certeza há outros cineastas talentosos que saberiam lidar com as indagações apresentadas ali a respeito do olhar, das memórias, das narrativas. Acredito também que, quando o livro muda de linguagem, torna-se uma nova obra, e tenho mais curiosidade para saber em que o transformariam do que desejo de controlar essa transformação. Prefiro que o cineasta trabalhe como preferir em seu campo de criação. O meu continua a ser a literatura.

Ficou com vontade de ler o livro? Clique aqui e peça seu exemplar!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

BATE-PAPO SOBRE MEU NOVO LIVRO


Todos estão convidados para um bate-papo sobre literatura e sobre meu livro mais recente, o romance Diante dos meus olhos (editora Reformatório, 2019). Estarei na livraria Zaccara junto com o escritor e jornalista Alex Xavier, do coletivo Discórdia, e o artista e arquiteto Felipe Góes, autor da pintura que ilustra a capa do livro. Venha você também, é só chegar, puxar uma cadeira e participar da conversa!

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

DIANTE DOS MEUS OLHOS


Meu terceiro livro está sendo publicado dez anos após o seu primeiro esboço. Nesse meio-tempo eu aprendi a lê-lo e a formular ideias sobre literatura. A mais recente surgiu durante a conversa com uma colega. Quando mencionei o lançamento do Diante dos meus olhos, ela comentou: deve ter uma mensagem bonita no final. Ora, por que eu deixaria mensagem assim?

Nem é o fato de ser bonita que me intrigou; a beleza não depende apenas do livro, mas também do gosto do leitor. Há romances terríveis e, para mim, belíssimos, como O som e a fúria, do William Faulkner. Outros, que o senso-comum considera lindos porque emotivos, por exemplo, me parecem horríveis, clichês, apelativos. Tudo isso para dizer que aquele comentário me pôs a pensar por causa da palavra “mensagem”.

Imagino que todo escritor empenhado em promover uma experiência estética mais condizente com as questões contemporâneas não espera comunicar uma mensagem com seus livros. Por vários motivos: a mensagem tem um significado determinado, pressuposto, que violenta o leitor, ainda que travestida de beleza. Mensagem é aquilo que um escritor gostaria que o leitor apreendesse do livro a qualquer preço, o que o impede, ou ao menos dificulta, de apreciá-lo como bem entender. A mensagem é fechada, dura, objetiva. Enquanto um livro promissor, na minha concepção, deve ser aberto, poroso, indeterminado; deve ser um convite para o leitor abstrair dele o que quiser, ainda que seja uma mensagem.

Prescrever uma mensagem no livro quase sempre implica também dar à história uma conotação moral. Ou seja, ditar uma regra, um comportamento, um entendimento verdadeiro e compatível com certo padrão hegemônico de ser.

Penso que um livro relevante para a literatura contemporânea faz o oposto: coloca a moral em questão, dá voz a modos de existência oprimidos pela hegemonia, apresenta contradições, opera por uma lógica paradoxal, provoca o entendimento para que tome formas até então desconhecidas.

Sem dúvida, uma história que reproduz nossas crenças traz conforto. Mas a que de fato nos toca a ponto de tensionar e transformar quase sempre é aquela que nos contradiz, que nos apresenta pontos de vista inusitados, que nos fala do que jamais foi dito, talvez por ser, de certo modo, proibido.

Albert Camus escreveu O estrangeiro, um romance que me marcou e que eu quis homenagear, como forma de agradecimento, no Diante dos meus olhos. O início é muito famoso: “Minha mãe morreu hoje, talvez ontem, não sei bem”. Trata-se de um personagem apático, que não se deixa tocar nem mesmo pela morte da mãe. E ele será julgado por isso, inclusive quando enfrentar um tribunal, acusado de matar um árabe numa praia da Argélia. Ele está diante do júri, respondendo por uma acusação de homicídio, e todos já o consideram culpado por antecipação, afinal foi incapaz de chorar a morte da própria mãe.

Daí advém outra ideia sobre literatura: para nos falar desse tipo de conflito mais complexo, o autor não pode se colocar acima de seu enredo ou de seus personagens. Não pode escrever “sobre” eles; não deve julgá-los pelo que deles pressupõe. Deve apenas criar uma condição favorável para que eles ganhem vida da maneira como quiserem; o escritor precisa limpar o terreno, retirando inclusive a si próprio, para que seus personagens possam habitá-lo.

É vital que ele preserve, nesse processo, um lugar para o não sabido. O escritor que pensa dominar tudo atenta contra a própria criação; se pretende ser exato, o torto jamais se apresentará, e com ele se vai o imprevisto, o indomado, o inusitado. Ao tentar estabelecer “o” sentido, como já vimos, ele passa por cima dos personagens, querendo mostrar que sabe mais, querendo ditar o destino deles; torna-se um ditador. E tenta justificar o que escreve. Com isso, menospreza seu leitor. Pressupõe que o leitor não é capaz de entender por si próprio, então retoma o assunto e explica, explicita, esclarece. Traz tudo à superfície da página; ilumina todo cantinho obscuro que poderia dar algum volume à história.

Para mim, a boa história é aquela que preserva o espaço do não narrado, do que é impossível de contar porque não cabe em palavras, do que está sem explicação aparente e assim provoca um estranhamento.

A “poética do estranhamento” é uma das que mais me interessam ao ler e ao escrever. Ela não se refere necessariamente ao que é absurdo por completo. O estranho é sutil. É por vezes um detalhe capaz de transformar uma cena familiar, confortável, banal num transtorno, numa perturbação, num incômodo porque algo ali parece fora de lugar. É um elemento comum que, um pouco deslocado do que dele se espera, inquieta o leitor.

É difícil programar esse efeito, como um artifício colocado de maneira proposital na narrativa. Meus textos bem planejados sempre me pareceram medíocres, jamais me dei bem com esse processo. Penso que, quando escrevo bem, não escrevo para tirar a história da cabeça e colocá-la no papel; escrevo para descobrir a história no próprio papel, perseguindo os rastros deixados pelos personagens, tropeçando nas armadilhas do enredo.

Michel Foucault fala disso numa entrevista sobre seu processo de escrita, publicada no Brasil sob o título de O belo perigo. Ele diz: “A escrita consiste em empreender uma tarefa graças à qual e ao final da qual poderei, para mim mesmo, encontrar alguma coisa que não tinha visto inicialmente”.

A escrita é uma prática da descoberta. Depois é possível se afastar, editar, ser leitor do próprio texto. Mas a princípio é preciso vivenciá-lo.

Isso tudo se apresentou enquanto eu trabalhava no Diante dos meus olhos. Aprendi enquanto escrevia, estudava, analisava meu próprio processo. Tive dez anos à disposição. A história chegou primeiro, é a fonte a partir da qual pude pensar criticamente estas ideias que compartilho agora. Eu disse lá no início que, com o tempo, aprendi a ler o meu próprio livro. Posso dizer que ele também me ensinou a escrevê-lo.

Gostou? O romance Diante dos meus olhos está à venda no site da editora Reformatório e em diversas livrarias físicas ou digitais.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

LANÇAMENTO DO LIVRO "DIANTE DOS MEUS OLHOS"


Meu terceiro livro vem aí! Será lançado em 16 de outubro na biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, pertinho dos metrôs República e Anhangabaú.

O evento terá uma roda de conversa e sessão de autógrafos. A entrada é gratuita, aberta ao público, basta chegar. Quero ver todo mundo lá!

O romance recebeu Menção Honrosa no Programa Nascente USP 2015 e no Prêmio Sesc de Literatura 2016. Foi selecionado no 2º Edital de Publicação de Livros da Cidade de SP e publicado pela Editora Reformatório.

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