Ao dar ouvidos a grupos reacionários (e pedir desculpas a eles!), o Santander Cultural tenta escapar de boicotes ao banco Santander. Explicita, assim, um dos problemas graves da instituição privada: ela tenderá sempre a moldar seus valores nos valores do capital. É, por isso, incapaz de atuar em âmbitos da cultura que sustentam minorias, oposições, insurgências.
Se o Santander Cultural prefere ficar ao lado dos censores, é porque estes são a maioria ou porque falam mais alto. Se os insurgentes fossem maioria, se tivessem voz, o banco ficaria com eles. É dessa maneira pervertida que se organiza a sua ética.
Pois ficou decidido que uns não serão ofendidos agora, enquanto outros continuarão ofendidos como sempre foram. Esse é o lugar que o Santander Cultural lhes concede; um lugar em que a diferença, para variar, não pode entrar. Triste. E preocupante.
Cabeça coletiva, de Lygia Clark. Um dos trabalhos que faziam parte da exposição |
"Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu - Cartografias da diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra.
O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia. Nosso papel, como um espaço cultural, é dar luz ao trabalho de curadores e artistas brasileiros para gerar reflexão. Sempre fazemos isso sem interferir no conteúdo para preservar a independência dos autores, e essa tem sido a maneira mais eficaz de levar ao público um trabalho inovador e de qualidade.
Desta vez, no entanto, ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.
O Santander Cultural não chancela um tipo de arte, mas sim a arte na sua pluralidade, alicerçada no profundo respeito que temos por cada indivíduo. Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos comprometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos."