Tempo branco (1959), de Pablo Palazuelo |
que troco de lugar
encho de café,
de baldes de água fria
da boca à mesa
trabalho, repouso depois
de cabeça para baixo
no escorredor
provoco fissuras
mínimas, que sejam
invisíveis, insensíveis
por toda a sua conjetura
da superfície à estrutura
breves rompimentos
na cerâmica do dia
que não cicatriza, nunca
volta atrás
só aumento
a duras penas
sustentando-a
como se nada tivesse
acontecido
um gole a mais,
outro a menos
dia a dia
momentos, momentos
chega o que basta
leve toque de pluma
para romper a casca
desde a fundação
ela se estilhaça
seja o que for
que se faça
como saber, desgraça?
pior viver sem
provar os amores
nem arder dissabores
tudo bem?
tudo bem.
a pergunta terrível,
a resposta impassível,
impossível!
restam fragmentos, cacos
na palma da mão
lapsos da experiência única
vivida repetidas vezes
a dois, a dez, a mil