Inversos Paralelos. O mundo às avessas. Todos os mundos; os mundos de cada um. Correndo lado a lado, ignorando-se mutuamente num universo particular – um pacto silencioso –, até que se cruzam, impactam, embatem, empatam. Caem na real.
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São versos cotidianos, feitos de pão na chapa, falta de tempo, (des)encontros, lembranças, sofás, andanças, paisagens urbanas, lágrimas, sinas e signos, resistências, rimas, tv, manchetes de jornal, coisas. Da vida. Quebra-cabeça rejuntado por certo incômodo errante, porém preciso e necessário, de quem observa sem saber direito o que está errado; suspeita de quem percebe, no vai e vem, as pecinhas fora do lugar. De quem não se deixa ludibriar pela amortização permissiva do dia a dia: o "deixa pra lá" que consente. Andar oscilante, insatisfeito, de quem enfrenta a realidade com as armas que tem à mão: uma lata de cerveja, um rinosoro, um celular tijolinho pré-pago, um arrepio de amor – talvez de frio –, cartão de crédito, café com leite para dar coragem. Condições do ser e do não ser. Questão delicada.
Em versos e prosas, a autora evoca cenas entrevistas nas ruas, onde procura a poesia das esquinas, a literatura dos botecos, as rimas sugestivas perdidas na primeira ou na segunda gaveta do criado-mudo, entre calmantes para dormir, estimulantes para trabalhar e um livro do Machado para fazer alguma coisa valer a pena, afinal.
Dores de cabeça de quem não sossega e pega o problema para si. Um tapa na cara, algumas sabedorias populares, afetos e desafetos, apontamentos e desapontamentos; risos e esperanças também, por que não? Todos os – muitos – lados da moeda. Tudo o que se vive num único dia, se tiver sorte, se estiver disposto a botar os pezinhos descalços na realidade dura. Sonhos e jovialidades entremeados pela vontade decidida de colocar os pingos nos is (somente pontos, sem coraçõezinhos). Vontade de consertar "o que não tem conserto; nem com fé nem com jeito; nem com pé nem com peito".
Cutucões, despropósitos, obsessões, politicagens, instantes fotográficos nem sempre fotogênicos, sarcasmos, diferenças, realidades surreais, relativismos. Porque, veja bem... A natureza tenta sobreviver no mundo dos homens, enquanto os homens falecem em sua própria natureza, sozinhos. Os paralelos se invertem.
O que Mariana Teixeira quer contar "vai além do conto. Vai além dos dias, das noites. Do sapato molhado e dos espirros vazios. Dos passeios sozinha pelo centro. Da companhia do gato preto".
Há quem cruze com um gato desses e faça o sinal da cruz. Por sua vez, Mariana Teixeira agarra o gato, abraça, faz dele um filho. Cruzes!
Ela agarra o que há de promissor no cotidiano, intimidado pelos (des)prazeres que correm soltos por aí, sufocado por eles. Assim, desmistifica atitudes e pensamentos mundanos que só têm a prejudicar a vida. Sua e a do gato. Nossa também.
Lançamento:
2 de outubro, das 18h30 às 21h30, na Livraria da Vila.
Rua Fradique Coutinho, 915 – Vila Madalena – São Paulo/SP.
Conheça também o blog da autora: Correndo com os Dedos