Sabe, ando cansado de filmes excessivamente complexos, seja no enredo ou na produção. Cansado de milhares de personagens e reviravoltas, de estética obsessiva, de épicos históricos pautados em batalhas, de histórias pobres sustentadas por efeitos especiais cujo único objetivo é tirar o fôlego do expectador. Por isso, quando me deparo com filmes como O palhaço, de Selton Mello, solto suspiros de alívio. Não porque ele seja banal, no sentido pejorativo do termo, mas justamente porque conta uma história banal, quer dizer, por tratar da vida comum, dos dramas que todos nós vivemos cotidianamente.
Admiro quem consegue fazer poesia com matéria-prima tão simples. É disso que O palhaço trata, de uma crise de identidade que põe em dúvida a carreira profissional do protagonista – uma história pequena, porém rica em significações, semelhante ao que Ernest Hemingway fazia em seus contos.
Uma ocasião breve e pontual. E só. Um capítulo da biografia do tal palhaço, representado com uma fotografia belíssima, saturada e quente; com uma trilha que mistura MPB e temas circenses; com um humor primordial que diverte a todas as idades e com uma direção cuidadosa, de planos fechados e atenção voltada à expressão corporal dos personagens.
O palhaço tem seus clichês e defeitos: talvez pudesse se estender um pouco para que a crise ganhasse peso e a vontade de retomar a carreira convencesse mais, talvez não precisasse cair no lugar-comum do circo decadente, talvez não precisasse dos cenários ermos do interior, talvez Selton Mello pudesse se esforçar para não ser tão Selton Mello; mas a verdade é que as qualidades sobressaem e nos tocam no ponto certo.
Aliás, o filme merece ser visto por um motivo especial: é o único em cartaz, entre outros dez ou doze que ocupam as salas dos cinemas convencionais, a explorar a vida humana de maneira delicada, com simplicidade e sem grandes pretensões ou ideologias. Um verdadeiro respeito ao bom gosto e à inteligência do público.
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