Mariana Delfini: Muitas pessoas vêm à peça atraídas pela imagem que têm de você na televisão. Mas, no palco, você adota um tom irônico e até agressivo em relação à plateia. Não teme frustá-la?
Caco Ciocler: A graça do espetáculo é mesmo esta, frustrar qualquer expectativa de quem vai em busca de entretenimento. O fato de eu fazer televisão potencializa esse jogo. Veja bem: não tenho nada contra o entretenimento, mas já existe tanta coisa dando conta dele... Acho uma pena as pessoas virem buscá-lo também no teatro. Sinto que a gangorra pesa muito para esse lado e pouquíssimo para o da arte, que dá espaço à dor – não a dor como objeto de culto, mas a dor da vida, mesmo, a dor diante do vazio. Preencher o tempo com o entretenimento é uma maneira de fingir que esse vazio não existe. A arte deve estimular o movimento oposto: nos fazer parar de mentir sobre ele. Deve dar à existência uma dimensão mais sublime, para além do banal.
Entrevista concedida à revista BRAVO! deste mês, a respeito da peça 45 minutos, em cartaz no Centro Cultural São Paulo.