Mãos de Portinari executando a pintura Menino com carneiro (1953)
Tem um fato marcante na biografia de Cândido Portinari que, de tão banalizado, já não recebe o devido respeito. Esse fato é a própria morte do pintor. Ontem mesmo, saiu escrito na Folha de São Paulo, numa reportagem sobre a exposição recém-inaugurada no MAM, que Portinari "morreu intoxicado pelas tintas aos 58 anos, em 1962". E o texto continua como se tivesse explicado uma fração da raiz de nove, sem demonstrar emoção por algo tão cheio de significado - a informação aparece como uma curiosidade qualquer.
Pintar era a vida de Portinari; ainda que ela determinasse sua morte, deveria ser levada adiante. Porque a intoxicação não foi acidental - desde 1953, ele tinha plena consciência do mal que as tintas faziam ao seu organismo. Seu médico o havia proibido de usá-las, e ele tentou obedecer, testou lápis de cor, escreveu poesias, buscou outras linguagens. Morrer pela pintura - e por causa da pintura - foi sua escolha. A opção de viver sem ela jamais o convenceu.
Para esse paulista de Brodósqui que tanto contribuiu para a cultura nacional, a arte pictórica não era um vício impossível de largar. Era muito mais, uma necessidade física e intelectual; o tal "sentido da vida", como dizem por aí. Sua relação com as tintas contribui para o entendimento de toda a sua obra e ressignifica tudo que ele criou a partir delas. Uma dedicação sobre-humana que, para Portinari, valia a pena ser levada às últimas consequências.
No Ateliê de Portinari: 1920-45
Exposição no MAM/SP, com curadoria de Annateresa Fabris
Parque do Ibirapuera, portão 3 - s/nº
De 14 de julho a 11 de setembro de 2011
De terça-feira a domingo, das 10h às 18h