Palmeiras, como poderei te falar, te contar ou descrever,
És mundo disfarçado de casa, és casa podendo ser mundo.
Quem te vê de fora não entende, quem entra te conhece, nunca esquece,
Palmeiras, a cada dia nasce vida em teus barros, tintas, papéis e madeira,
És tu, Palmeiras, a casa dos meus sonhos, de uma noite que não quis ter fim,
És o início, o universo, o recomeço, tudo isso tu, Palmeiras, és para mim.
Não sei muito a respeito do autor do poema acima, entitulado Palmeiras, que foi escrito em 1993. Sei apenas que, na época, tratava-se de um rapaz, um dos clientes da Casa das Palmeiras, entidade carioca criada pela psiquiatra Dra. Nise da Silveira 37 anos antes.
A casa surgiu como continuidade de um trabalho importantíssimo que a doutora desenvolvia no Hospital Psiquiátrico D. Pedro II, no distante bairro de Engenho de Dentro, e representou um marco na psiquiatria brasileira. Seu propósito é fazer ponte entre a reclusão hospitalar e a vida em sociedade, ajudando os pacientes a retomarem a rotina que tinham antes da internação. Tudo isso porque os casos de reinternação eram bastante grandes, normalmente ultrapassavam o número de novos internos nos hospitais psiquiátricos.
Na Casa das Palmeiras, os clientes frequentam ateliês de pintura e escultura, oficinas de teatro e de costura, entre outras atividades. Ninguém fica internado; eles apenas participam dos grupos e retornam para casa no fim do dia. Conforme descrito no poema acima, o lugar é mesmo o mundo disfarçado de casa, onde, por meio das terapias artísticas, a vida consciente renasce a cada dia. A vida feita em barro, tinta, papel e madeira. A vida feita em poesia.
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