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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

ARTE E ARTESANATO, RIQUEZA MATERIAL E RIQUEZA CULTURAL


Ruína de charque Caruaru (2000), de Adriana Varejão

“Uma matéria alcança, por meio do trabalho de um autêntico artista um valor interior, que permanece para a eternidade, ao passo que a forma dada por um trabalhador mecânico, inclusive ao metal mais precioso, sempre tem em si mesmo, no melhor trabalho, algo de insignificante e de indiferente, que apenas pode alegrar enquanto é novo.”

Em 1797, Johann Wolfgang Goethe escreveu uma singela reflexão a respeito do valor do objeto artístico e do objeto artesanal. Singela, porém corajosa, tendo em vista que o assunto é complexo. Na época, a produção industrial europeia crescia fervorosamente e despejava milhares de traquitanas no mercado, desde utensílios domésticos a gravuras e reproduções de pinturas famosas. Incomodado com a banalização da arte, aquele escritor, filósofo e cientista alemão defendeu a singularidade da obra de arte, classificando-a como “verdadeira riqueza” e a relacionando à produção de conhecimento:

“A verdadeira riqueza consiste, portanto, na posse de tais bens, que se conserva por toda a vida, em cujo gozo possamos sempre mais nos alegrar junto aos conhecimentos sempre maiores.”

O toque do artista, com sentimento e sensibilidade, produziria obras com “valor interior”, enquanto os objetos industriais conteriam apenas o encanto superficial com que satisfaziam o público menos esclarecido. Ao invés de verdadeira riqueza, esses objetos proviriam o luxo. E só.

Duzentos anos depois, passadas a teoria de Walter Benjamin sobre a reprodutibilidade técnica da arte e a incorporação do processo industrial realizada pelo movimento Pop, o assunto ainda é relevante. Afinal, o que nos faz chamar uma Ferrari de obra-prima, enquanto o pintor de azulejos da feirinha hippie continua subjugado como artesão?

Fico me perguntando o que Goethe teria a dizer sobre esses valores em nosso confuso período contemporâneo.


GOETHE, Johann Wolfgang. Arte e artesanato. In: Escritos sobre arte. São Paulo: Editorial Humanitas / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.