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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PERSONALIDADE EM PRIMEIRO PLANO

“Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer artista consciente sente o mesmo.” Candido Portinari

A partir de hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, os brasileiros podem ver os painéis Guerra e Paz, de Candido Portinari, que estão de volta ao país depois de passarem cinco décadas na sede da ONU, em Nova York.

O retorno é provisório: o prédio onde as obras são mantidas será reformado e João Candido, filho do artista e administrador de seu espólio, aproveitou a oportunidade para fazê-las circular pelo Brasil e pelo mundo. Isso deve ocorrer durante os próximos dois anos, ao final dos quais ambas serão reinstaladas no local de origem.

O evento está sendo bastante noticiado e não poderia ser diferente – o próprio Portinari considerava esses painéis seu principal trabalho. Você já deve ter lido que, juntos, eles medem 280 metros quadrados, pesam 2,8 toneladas e foram realizados com tinta a óleo sobre madeira compensada – a mesma usada na fabricação de barcos. O que achei mais curioso, no entanto, foi a postura do pintor em relação a duas coisas: ao problema de saúde, diagnosticado durante a execução do projeto e causado pelo contato com a tinta, e ao governo norte-americano, que dificultou sua entrada no país para a cerimônia de inauguração porque Portinari era comunista declarado.

Pois é, já em 1953 surgiram os primeiros sintomas de intoxicação por tinta, que mataria o artista em 1962. Mesmo sabendo que o trabalho prejudicaria sua saúde, Portinari o realizou em aproximadamente quatro anos, de 1952 a 1956.

Quando eles finalmente foram inaugurados, em 1957, a cerimônia foi discreta e o pintor não participou. Os Estados Unidos viviam o auge do macartismo, marcado por perseguições políticas. Os diplomatas brasileiros chegaram a interferir e, depois de muito negociarem, conseguiram a solução: bastava Portinari solicitar o visto no consulado americano que este lhe seria concedido. Mas ele não ficou satisfeito – Portinari queria um convite oficial de Washington, que jamais chegou. Era um homem de personalidade forte, tão forte quanto a expressividade de suas pinturas.


Guerra e Paz (1952-1956), de Candido Portinari

Saiba mais sobre os painéis: Projeto Portinari