Hoje o dia amanheceu com chuva forte. Abri a janela e pensei: tempo perfeito para dar o pulo do gato. Isso significa que o mundo conspirava a favor da minha primeira ida à 29ª Bienal de São Paulo, porque a chuva afasta os atletas de fim de semana que normalmente tomam conta do Parque do Ibirapuera e disponibiliza vagas de estacionamento àqueles seres estranhos que, como eu, jamais derramaram uma só gotinha de suor por ali. Só que logo a chuva parou, depois voltou, depois parou de novo e me contaminou com a sua indecisão – fiquei em casa, sentado no sofá, refletindo se deveria arriscar. Escolha difícil, pois moro a pelo menos vinte e cinco quilômetros de lá e não estava a fim de desperdiçar valorosos minutos de paz dominical. Resolvi deixar a manhã em observação e tomar a iniciativa depois do almoço.
Estava friozinho também. Seria impossível o parque lotar. Resolvi ignorar toda a minha experiência adquirida em bienais passadas e assumir o risco.
Quando cheguei, sobravam vagas, foi ótimo. Só que o impossível se provou bastante plausível quando deparei com uma fila imensa, que tomava toda a lateral do pavilhão. Incrível! Centenas, talvez milhares de pessoas aguardando na chuva uma chance de respirar arte. Observei o fluxo, conferi o processo de revista e aprovação e cheguei à conclusão de que, para entrar, eu levaria ao menos uma hora de um gostoso chá de cadeira (sem cadeira e sem chá, para piorar; em outras palavras: uma hora, de pé, na chuva).
Também cheguei a outra conclusão: quem acha que os brasileiros não estão interessados em arte, ainda mais contemporânea, está surpreendentemente enganado. Em seu primeiro domingo, a 29ª Bienal não estava apenas concorrida – estava disputadíssima por reais aficionados. Acabei cedendo meu lugar a um deles. Gostaria muito de evitar essa concorrência e visitar a mostra durante a semana; mas, como as circunstâncias não permitem, resta-me aguardar o próximo sábado ou domingo chuvoso. Ficam registradas aqui minhas dicas e frustração. Tomara que a tal segunda chance venha logo.