Pesquise aqui

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

TEATRO ABSTRATO



É realmente difícil descrever o espetáculo Shi-Zen, 7 cuias, encenado domingo passado pelo grupo Lume no Tuca (PUC/SP). Foi o último evento da chamada Casa Lume, que celebrou os 25 anos do grupo com uma intensa programação cultural. E não poderia ter sido melhor.

Assistir àquela peça é mais ou menos como contemplar um quadro abstrato. Não há narrativa, não há começo, meio ou fim. Não há diálogos – exceto por um, realizado com gritos musicais e gemidos inconformados, todos em claro japonês inventado. São apenas sensações, metáforas e muitas sugestões.

E tema? Tem? Tem. Fala de arquétipos, mitologia, nascimento e morte, ascensão e queda, comportamento social, desamparo, esperança, natureza e daí por diante. Deve falar de muitas outras coisas também, sabe por quê? É uma peça difícil de definir, como já disse. Não tem certo ou errado, tem apenas metáforas sobre a vida, cada um as entende como quiser.

São metáforas ricamente interpretadas. A sutileza dos movimentos nos carrega para outros planos, assim como a intensidade das músicas. Os sete atores do grupo se completam e se superam a cada cena. E elas demoram, nossa, como demoram! Muitas vezes levam minutos inteiros para realizar atos praticamente imperceptíveis, porém essenciais: é essa demora que nos permite deixar a ansiedade de lado e adentrar o novo mundo.

A coreografia foi desenvolvida em parceria com japonês Tadashi Endo e tem base em seu elegante e minimalista Butoh-Ma. A inspiração oriental aparece aí e em muitos outros cantos, a começar pelo nome: Shi (indivíduo), Zen (como exemplo) e Shi-Zen (natureza).

O espetáculo é uma verdadeira experiência de vida. Nos leva ao riso, às lágrimas, à raiva, à tensão e à apatia. Tudo está presente em sua forma mais pura: aquela que não tem forma de nada, exceto de sentimento. É a essência daquilo que gera todas as outras histórias, uma versão primordial do homem e do mundo. Difícil de definir, eu sei, mas é isso aí. Melhor é ver com os próprios olhos. E com a cabeça aberta.



Mais informações: Lume Teatro