domingo, 7 de fevereiro de 2010
"A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique."
"Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. Este livro é uma pergunta."
"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."
"Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela."
"Se o leitor possui alguma riqueza e vida bem acomodada, sairá de si para ver como é às vezes o outro. Se é pobre, não estará me lendo porque ler-me é supérfluo para quem tem uma leve fome permanente. Faço aqui o papel de vossa válvula de escape e da vida massacrante da média burguesia."
"Pois era muito impressionável e acreditava em tudo o que existia e no que não existia também. Mas não sabia enfeitar a realidade. Para ela a realidade era demais para ser acreditada."
"Eles não sabiam como se passeia."
"Macabéa separou um monte com a mão trêmula: pela primeira vez na vida ia ter um destino."
"A vida é um soco no estômago."
Trechos selecionados de A hora da estrela, de Clarice Lispector