A Céu de hoje está mais madura. Aperfeiçoou o domínio sobre a voz – que considera seu verdadeiro instrumento – e conseguiu que a banda a complementasse em perfeita sintonia, fazendo uma mistura quase sempre inusitada de acordeão, samplers e tamborim. Suas letras, que já eram ótimas, mativeram a qualidade. Estão cheias de poesia, imagens oníricas, cultura brasileira e temas tão complexos quanto fluxos do tempo e do pensamento, tratados de modo a ficarem sempre a salvo do lugar-comum. É incrível como Céu apanha expressões do cotidiano e as transforma em algo interessante. Vide a frase “embrulhar para viagem”, da música Espaçonave (Pode mandar embrulhar / que eu quero te levar pra viagem / voltar pra nave mãe pra despressurizar / deixar o sol me beijar, me beijar). Pôxa, quem faz música de verdade com isso?
Seu show muitas vezes adquire tom de rito, em que os músicos levam o público ao transe; as horas passam e ninguém percebe. Às vezes, acontece de você se perder na levada e abandonar a letra. Mas o sentimento nunca se perde, está sempre ali, claro como a voz que a entoa. Céu tem também um jeito esquisito de dançar, meio tribal, meio duro, que aumenta ainda mais essa sensação. Ah, se todas as crenças contivessem a energia e a sensibilidade dessa artista… O mundo estaria girando em ritmo bem mais harmonioso, sem pausas ou contratempos.