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domingo, 23 de agosto de 2009

A VERDADEIRA HISTÓRIA FALSIFICADA DE BUDA


Buda, de Osamu Tezuka

Ao final do décimo quarto volume de Buda, “novela em formato de história em quadrinhos”, como o próprio autor Osamu Tezuka a denomina, descobri que tudo o que li era pura ficção e isso me decepcionou um pouco, inicialmente. Eu acreditava ler uma biografia séria, baseada em pesquisas e textos sagrados, o mais próximo possível da realidade. Só no posfácio o autor explicou que praticamente tudo ali surgiu de sua cabeça, inclusive personagens, paisagens e acontecimentos. Consciente das possíveis críticas que receberia nesse sentido, ele nos recomenda que a história seja lida como mais uma das ficções científicas que o fizeram famoso, em especial Astro Boy e Black Jack.

Pensei um pouco no assunto e cheguei à conclusão de que o importante é que a obra de Tezuka emociona. Em mais de uma passagem, as lágrimas me vieram aos olhos e os pensamentos à razão. Buda não é uma história gratuita, alienada. Ela propõe ao leitor uma nova relação com o mundo. Podemos encontrar, na jornada do príncipe Siddhartha pelas regiões mais peculiares da Índia antiga, a luz que muitas vezes nos falta no dia-a-dia. Não se trata de uma mensagem unicamente religiosa. Como o monge diz a seus discípulos, são ensinamentos, coisas que se aprende e se passa adiante, e que detêm a ousada missão de nos explicar os mistérios da vida.

Isso é ficção? Sim, obviamente, assim como tudo o que pertence ao passado. A vida é apenas um instante, é apenas o agora. O resto são lembranças que guardamos e recontamos como bem entendemos, estão sempre sujeitas ao nosso ponto de vista. Ou à criatividade, como no caso da HQ de Tezuka. A bíblia é ficção, o alcorão idem. Uma biografia de Buda, mesmo que se pautasse em pesquisas históricas, científicas e portanto “sérias”, também não passaria de mera ficção. Uma ficção que todos decidimos aceitar como verdade, tudo bem, e que não deixaria de sê-lo, aliás. Como disse anteriormente, o importante é que o Buda de Osamu Tezuka emociona. E isso basta.