Quando comecei a montar este blog, não entendia praticamente nada do assunto. Sabia apenas que, hoje em dia, seria uma tarefa simples, mas nada é verdadeiramente simples até que o conheçamos de fato. Como um colega publicitário costuma dizer, todo projeto é complicado até surgir uma boa idéia. Depois dela, as coisas ficam bem mais fáceis.
Aqui não foi diferente. Escolhi um layout entre os padrões oferecidos pelo Blogger e não demorei muito para perceber que ele era “padrão demais”, quer dizer, um monte de gente por aí teria um blog igual (ou, considerando que o meu era um dos mais recentes, ele é que seria parecido com os outros).
Decidi que pelo menos o cabeçalho poderia ter um pouco mais a minha cara e, talvez, ser um diferencial. Então comecei a pensar com que coisa minha cara se parece. Não literalmente, claro, para sua sorte.
Primeiro, resolvi pegar uma fotografia ou uma pintura que tinha feito nos últimos tempos e sobrepô-la com o título do blog. Escolhi uma pintura. O formato não ajudava muito, as cores tampouco e o resultado foi bizarro. Optei então por uma foto preta e branca, fui escurecendo-a para ser mais fácil de ler o nome e, no fim, quase não dava mais para ver a foto – ficou parecendo uma tarja preta com algumas manchas acidentais.
Foi então que me lembrei do Liu Ding.
Para quem não conhece, trata-se de um artista plástico contemporâneo chinês que tem conquistado espaço mundo afora e construído certa fama. Conheci seu trabalho na primeira (e ótima) exposição de arte chinesa contemporânea realizada no Brasil, no MASP, que ficou em cartaz de novembro de 2008 a fevereiro de 2009 com o nome de “CHINA: CONSTRUÇÃO / DESCONSTRUÇÃO”.
Nesta ocasião, ele apresentou uma obra bastante interessante chamada “Liu Ding’s Store – Take Home And Create Whatever the Priceless Image In Your Heart Is” (algo como “A loja do Liu Ding – leve para casa e crie qualquer que seja a imagem de valor inestimável que esteja em seu coração”). Trata-se de uma série de pinturas não-acabadas, cada uma delas exibindo um trecho de paisagens tipicamente chinesas, elaboradas pelo artista e executadas por dez artesãos do vilarejo de Dafen*. Em outras palavras, cada tela tem um pedaço pintado e todo o resto é deixado propositalmente em branco, com a bonita proposta de que o público a termine como bem entender. Me identifiquei imediatamente e comprei uma das duas últimas telas, que são reproduzidas em série. Não bastasse o conflito proposto entre o original e a cópia – já bastante discutido por teóricos importantes desde Walter Benjamin –, esta obra de Liu Ding fala também do papel do público na arte contemporânea, que precisa cada vez mais dar sua interpretação para que ela possa existir. É um tema que venho pesquisando desde a pós-graduação e que me parece importante, levando-me sempre a aprofundar os estudos.
Teorias à parte, eis que surgiu a boa idéia que tornaria a construção do blog bem mais fácil: resolvi finalizar minha tela transportando-a para este novo projeto, utilizando-a de plano de fundo no cabeçalho que você vê acima. Assim, consegui encontrar algo com que me identificasse sem ficar diretamente preso aos meus próprios trabalhos. Em outras palavras, ao invés de colocar aqui um retalho de foto escurecida e, por isso mesmo, sem graça, optei pela tela do Liu Ding, que me permitiu fazer uma referência às minhas pesquisas de arte e aos textos deste blog – afinal, eles também precisam ser lidos e interpretados para existirem. E, se não fosse por você, leitor, eu não os estaria publicando aqui.
Enfim, é por isso que esta pintura não-acabada está aí em cima. Não esperava me prolongar tanto com uma explicação tão simples, mas, como disse anteriormente, nada é verdadeiramente simples até que o conheçamos de fato.
Que bom.
*O vilarejo de Dafen é hoje um dos principais pólos de produção artística do mundo, onde pintores chineses fazem cópias e as vendem por preços bem mais baixos do que os dos originais.
O dinheiro arrecadado com a venda das pinturas de Liu Ding é revertido para a reconstrução das cidades atingidas pelo Tsunami de 2004, que arrasou boa parte do sudoeste da China, entre outros países da Ásia, além de manter o projeto funcionando. Uma ótima idéia, cá entre nós. E também muito atual, pois alia os conceitos de arte e sustentabilidade de maneira exemplar.