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segunda-feira, 23 de março de 2009

MENOS SAMBA, MAIS TRABALHAR

Ainda tenho mais algumas considerações a respeito de minha recente viagem à Itália. A começar pelo fato de que éramos um grupo pequeno, formado por poucos brasileiros e venezuelanos e uma maioria espanhola (uns 70%), o que considerei muito positivo. Isso porque, como disse na crônica passada, a mudança de ambiente propicia novas percepções, e esse ambiente inclui também as pessoas ao nosso redor. Se fôssemos todos brasileiros, iríamos à Itália falar sobre os problemas daqui, em português, e ficaríamos comparando o país deles com o nosso. Não foi isso que aconteceu, ainda bem. Apesar das minhas dificuldades com a língua espanhola – e deles com o português –, dividimos experiências riquíssimas (não há nada que paciência, frases pausadas e BEM gesticuladas não resolvam).

Logo nas primeiras conversas, descobri que os espanhóis se parecem tanto com a gente quanto os italianos, que cada região de lá tem seu sotaque, que morar em um país de primeiro mundo tem suas vantagens – embora elas não sejam nem um décimo da maravilha que alguns imaginam, pois na Espanha também há crises e dificuldades de todo tipo –, que nossos futebolistas de exportação estão com o filme muito queimado porque só pensam em dinheiro e que o Lula, lá fora, vende a imagem de homem preocupado, que está salvando o país do terceiro mundismo – tá bem na foto, hein, presidente?

Mas o que me impressionou mesmo foi o esclarecimento dos espanhóis, assim como a boa educação dos mesmos. Se o Lula dá uma de herói, eles desconfiam, querem saber nossa opinião. Perguntam sobre trânsito, poluição, meio ambiente e sobre como estamos lidando com tudo isso. Não conseguem compreender como pode existir vida em uma cidade do porte de São Paulo, com seus 18 milhões de habitantes. Por que não fazemos como eles, que moram em pacatas cidades do interior, com mais qualidade de vida, a 200 km do trabalho, e vão e voltam todos os dias em confortáveis trens de alta velocidade? Porque no Brasil não tem isso não. Campinas? Como uma cidade que fica a uma hora da zona metropolitana pode ser tão grande? Xiii, meus amigos, vocês não viram nem a metade...

Os espanhóis do grupo entendiam de arte, tinham todo tipo de opinião sobre o assunto e ficavam me pedindo para revelar os segredos do contemporâneo. Se fossem simples assim, eu contava, juro.

Você é vegetariano? Como podem existir vegetarianos num país com tanto churrasco? Pois é, um dos problemas do Brasil é o excesso. O outro, a falta. Na Espanha, come-se muita carne, muito peixe, muito vinho. Me disseram que o pão de lá é uma delícia, tenho que provar. As frutas também. Qual é o prato típico daqui? Não sei, não tem. Aliás, tem muitos, porque cada região do Brasil é de um jeito. O país é grande, sabem?

Os espanhóis, assim como os italianos, comem dois pratos diferentes a cada refeição e desperdiçam à vontade, coisa que mamãe nunca me deixou fazer porque é feio, tanta fome que tem no mundo! Mas eles estão mesmo preocupados é com a saúde, dizem que deixar de lado 30% da comida pode salvar as artérias daqui uns anos. Será que não tem outro jeito de fazer isso? Eu comi muito na Itália, limpei o prato. Aliás, os dois.

Fiquei com vontade de conhecer o país deles. Já disse que para as touradas não vou de jeito nenhum, porque aquilo é judiação demais. Eles chamaram de tradição e quiseram saber dos nossos rodeios. Vou dizer o quê?

E para o Brasil, querem vir? Que nada! Nem manifestaram interesse. Perguntaram, perguntaram – desenhei até um mapa no guardanapo! –, mas eles preferiram ficar no papel mesmo. Achei tão estranho... Sempre pensei que todo mundo queria conhecer o Brasil. O Rio, pelo menos, terra do carnaval, das mulatas e das praias, mas que nada, como diria o Jorge Ben Jor. Senti que eles não eram de samba e tentei remediar: o Brasil tem muitos brasis. Tem o norte, o sul, o centro, o dentro e o fora. Tem muita coisa legal para ver, nem tudo é festa!

Não adiantou. Os mais evasivos disseram que é longe. Os econômicos, que é caro. E eu não quis fazer muita propaganda não. Olha que sou publicitário!, mas levantei as características do produto e achei bastante difícil de vender. Se não é o samba, qual é o mote? Infelizmente, o Brasil só tem um tipo de público.

Minha campanha foi por água abaixo antes mesmo de começar. Teve uma colega mais jovem que até perguntou do carnaval de Salvador, mas, quer saber?, às favas com isso. Fiquei com a sensação de não querer convidar os amigos porque sei que a casa está bagunçada. Vou fazer o quê, esconder a poeira embaixo do tapete? Por aqui ainda tem muita sujeira para limpar. E, para piorar, eles ficavam repetindo, tirando um barato: “Menos samba, mais trabalhar! Menos samba, mais trabalhar!” É mole?